O Presidente angolano é aguardado, hoje, em Adis Abeba, Etiópia, para participar na 38ª Conferência Ordinária dos Chefes de Estado e de Governo da União Africana, ocasião durante a qual será confirmado como o próximo Presidente em exercício da organização continental.
João Lourenço vai receber o testemunho das mãos de Mohamed OuldGhazouani, Chefe de Estado da Mauritânia e actual Presidente da União Africana. É a primeira vez, na História de Angola, que um Presidente assume a liderança do órgão máximo da União Africana, facto que coincide com o ano da comemoração dos 50 anos da Independência do país.
O líder angolano chega ao posto mais alto da União Africana com o título de Campeão da Paz e da Reconciliação em África, atribuído pela própria organização continental, como reconhecimento do seu empenho em prol da pacificação do continente.
Neste momento, já é notório a movimentação em torno do evento nos corredores da União Africana. Angola apresenta-se como candidata da região Austral, que, ao abrigo do princípio da rotatividade, competia indicar o próximo líder da UA neste ano.
A candidatura de Angola foi endossada, de forma unânime, pela Decisão 28 da 43ª Sessão Ordinária da Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da SADC, realizada no dia 17 de Agosto de 2023, em Luanda. Esta decisão ratificou, assim, a recomendação da 25ª reunião do Comité Ministerial do Órgão de Cooperação nas Áreas de Política, Defesa e Segurança desta mesma organização regional, ocorrida em Julho deste ano, em Windhoek, República da Namíbia.
A presidência da União Africana obedece a um sistema de rotatividade regional, com vista a garantir uma distribuição equitativa de poder entre as diversas regiões do continente, designadamente Norte, Ocidental, Central, Oriental e a Austral.
O país vai dar início ao seu mandato, com a duração de um ano (2025-2026), com a condução da primeira reunião ordinária da 38ª Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da União Africana (UA), a decorrer de sábado a domingo, tão logo receba o testemunho da Mauritânia, que lidera a organização desde 2024.
Como Presidente da União Africana, João Lourenço terá a responsabilidade de presidir e coordenar as acções da organização continental, representá-la em todas as questões políticas, diplomáticas internacionais, assim como coordenar as diferentes iniciativas em estreita colaboração com a liderança da Comissão da União Africana.
Um dos objectivos da presidência do país, subordinado ao lema “Infra-estruturas e Capital Humano: Principais Factores de Desenvolvimento Integral de África”, passará por garantir a execução do programa anual da União Africana, cujo lema para este ano será “Justiça para os Africanos e os Afrodescendentes por meio de Indemnizações”.
A presidência angolana na União Africana coincide com o segundo ano do seu mandato no Conselho de Paz e Segurança, sendo que os dois mandatos terminarão em Fevereiro e Março do próximo ano.
Ao fazer, ontem, o anúncio da deslocação do Chefe de Estado a Adis Abeba, o secretário do Presidente da República para os Assuntos de Comunicação Institucional e Imprensa, Luís Fernando, disse haver uma grande expectativa à volta da presidência angolana, alicerçada, tal como sublinhou, no facto de João Lourenço ser o Campeão da Paz e da Reconciliação em África, bem como pelo facto de o continente estar a viver tempos “verdadeiramente escaldantes” em matéria de segurança e outros desafios críticos.
Criação de grupo
Para uma presidência bem sucedida, o Presidente da República determinou, por despacho, no final do ano passado, a criação de um grupo de trabalho interministerial para preparar, coordenar e organizar as tarefas inerentes às responsabilidades do país na presidência da União Africana.
O grupo é coordenado pelo ministro das Relações Exteriores, Téte António, e coadjuvado pelo ministro da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, João Ernesto dos Santos “Liberdade”. O grupo de trabalho tem como ponto focal nacional o embaixador de Angola na Etiópia e representante permanente junto da União Africana, Miguel Bembe.
Fazem, igualmente, parte do grupo de trabalho os ministros do Interior, das Finanças, do Planeamento, da Justiça e dos Direitos Humanos, da Indústria e Comércio, das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, da Cultura, os secretários do Presidente da República para os Assuntos Diplomáticos e de Cooperação Internacional e para os Assuntos de Comunicação Institucional e Imprensa.
A missão do grupo de trabalho passa, entre outras, pela elaboração de uma nota conceptual detalhada sobre a estratégia da presidência angolana, focada no tema escolhido. A missão contempla, ainda, a elaboração do plano de tarefas, o cronograma de actividades, o orçamento para a implementação destes instrumentos, organização, coordenação, execução e monitoramento das tarefas inerentes ao mandato de Angola.
Ao coordenador compete propor e aprovar a agenda de trabalho das reuniões do grupo, supervisionar as actividades do grupo técnico de apoio, aprovar os relatórios e outros documentos relevantes apreciados pelo grupo, bem como convidar as entidades que entender necessárias para participarem nas reuniões do grupo de trabalho e em outras actividades que se revelem pertinentes.
O colégio é apoiado por um grupo técnico, coordenado pela secretária de Estado para as Relações Exteriores e integra os secretários de Estado dos departamentos ministeriais que formam o grupo de trabalho e respectivos peritos, designados pelos titulares dos seus departamentos ministeriais.
Ao grupo técnico incumbe preparar e assegurar a execução e acompanhamento das atribuições previstas no cronograma de trabalho.
Histórico da União Africana
A União Africana é constituída por 55 Estados-membros, que compõem os países do continente . Lançada, oficialmente, em 2002, como sucessora da Organização da Unidade Africana (OUA), a qual Angola foi admitida a 12 de Fevereiro de 1976.
A União Africana, com sede em Adis Abeba, Etiópia, foi lançada em Julho de 2002, em Durban, África do Sul, após uma decisão, em Setembro de 1999, da sua antecessora, a OUA, de criar uma nova organização continental para desenvolver seu trabalho.
A decisão de relançar a organização pan-africana foi o resultado de um consenso de líderes africanos de que, para realizar o potencial da África, havia a necessidade de redireccionar a atenção da luta pela descolonização e livrar o continente do apartheid, que tinha sido o foco da OUA, para uma maior cooperação e integração de Estados africanos e impulsionar o crescimento e o desenvolvimento económico de África.
A UA é guiada pela sua visão de “uma África integrada, próspera e pacífica, impulsionada pelos seus próprios cidadãos e representa uma força dinâmica na arena global”.
A organização tem, entre outros objectivos, alcançar maior unidade e solidariedade entre os países africanos e os seus povos, defender a soberania, a integridade territorial e a independência dos seus Estados-membros, acelerar a integração política e socioeconómica do continente.
Tem também como missão promover e defender posições comuns africanas sobre questões de interesse do continente e dos seus povos, incentivar a cooperação internacional e promover a paz, a segurança e a estabilidade no continente. Para garantir a realização dos seus objectivos e a obtenção da visão pan-africana de uma África integrada, próspera e pacífica, a Agenda 2063 foi desenvolvida como uma estrutura estratégica para a transformação socioeconómica e integrativa de longo prazo do continente. A Agenda pede maior colaboração e apoio para iniciativas lideradas por africanos para garantir a realização das aspirações do Estados-membros.