O Chefe de Estado e Presidente da União Africana, João Lourenço, afirmou, qurta-feira, que é possível controlar e vencer a cólera, com resposta rápida, integrada e coordenada, compromisso político e acções concertadas.
Ao discursar numa reunião presidencial de emergência sobre a situação da cólera em África, iniciativa do Presidente da Zâmbia, Hakainde Hichilema, que é o Campeão da União Africana para o Combate à Cólera, o Estadista angolano alertou que a luta contra o surto não pode ser ganha apenas com medidas imediatas, porque exige uma abordagem estratégica, integrada e duradoura.
“Enfrentar esta doença significa investir de forma robusta nas infra-estruturas essenciais, aproveitando o momento para transformar desafios históricos em oportunidades reais de desenvolvimento económico e social”, disse João Lourenço, durante a reunião de alto nível realizada em formato virtual pela África-CDC, Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.
O líder da União Africana sublinhou, ainda, que nos encontramos, hoje, “diante de um desafio que exige não apenas acção imediata, mas uma visão estratégica e sustentada para o futuro do nosso continente”, enfatizando que “a cólera é muito mais do que uma emergência sanitária, representa um grande obstáculo ao nosso desenvolvimento económico, social e humano”.
A cólera, admitiu o Presidente João Lourenço, “abre igualmente oportunidades únicas para resolver antigos problemas estruturais, através de soluções inovadoras e sustentáveis”, citando como exemplo o investimento em “infra-estruturas adequadas de água, saneamento e saúde pública, não apenas para salvar vidas, mas também para gerar ganhos económicos e financeiros concretos, criando as bases sólidas para sociedades mais saudáveis, resilientes e prósperas”.
Esforços de Angola e resultados concretos
Sobre a realidade de Angola, o Presidente da União Africana revelou que o país enfrenta, desde o início do corrente ano, um novo surto, com 24.536 casos e 718 óbitos até ao dia 2 de Junho, apresentando uma taxa de letalidade de 2,9 por cento.
A baixa das estatísticas, disse João Lourenço, deve-se “às medidas imediatas tomadas pelo Governo e parceiros”, congratulando-se com o facto de o país começar já a observar melhorias claras em várias províncias.
“Os nossos esforços começam a ter resultados concretos e estão efectivamente a salvar vidas”, salientou o Chefe de Estado angolano, para quem é urgente que, enquanto líderes africanos, “devemos assumir o controlo das soluções sanitárias do nosso continente, apostando na capacidade africana para produzir vacinas, medicamentos e equipamentos médicos essenciais, devendo a nossa solidariedade continental traduzir-se em acções concretas e estruturais”.
O Estadista angolano considera que a “dependência exclusiva de importações externas limita a nossa capacidade de resposta e compromete a soberania sanitária”, assegurando que Angola “está fortemente empenhada em desenvolver capacidades nacionais para a produção de medicamentos e de vacinas”.
O objectivo, acentuou João Lourenço, é o de atender não apenas às necessidades internas, mas também contribuir para as necessidades continentais, reforçando assim a segurança sanitária de África.
“É nossa convicção de que a produção local é uma prioridade estratégica, representando, também, uma oportunidade significativa de diversificação e crescimento económico para o nosso continente, sendo este investimento uma afirmação clara do nosso compromisso em promover a autossuficiência sanitária e económica de África”, sublinhou.
O encontro serviu para analisar o ponto de situação do surto de cólera que atinge numerosos países de África, com maior incidência em quatro nações, designadamente Sudão, Sudão do Sul, RDC e Angola.
Os vários Chefes de Estado que tomaram parte nos trabalhos, de entre eles Félix Tshisekedi, do Congo Democrático, Netumbo Ndaitwah, da Namíbia, John Dramani, do Ghana, e Lazarus Chakwera, do Malawi, foram unânimes em admitir que o recrudescimento da cólera como epidemia em África é o resultado da falta de investimento, durante décadas, em infra-estruturas de saúde, água, saneamento e higiene, e que o continente “não deve aceitar a cólera como algo normal”.