A participação da ONUSIDA na 79.ª sessão da AGNU é um lembrete de que o fim da SIDA como ameaça para a saúde global está ao nosso alcance, mas apenas se os líderes mundiais continuarem empenhados em combater as desigualdades estruturais que perpetuam a epidemia.
Que abordagem a ONUSIDA tem para a Cimeira do Futuro e a AGNU, a fim de enfrentar o desafio de erradicar a SIDA como problema de saúde pública até 2030?
A participação da ONUSIDA na 79.ª sessão da AGNU é um lembrete de que o fim da SIDA como ameaça para a saúde global está ao nosso alcance, mas apenas se os líderes mundiais continuarem empenhados em combater as desigualdades estruturais que perpetuam a epidemia.
A ONUSIDA, antes e durante o AGNU, apelará aos líderes mundiais para que revitalizem o multilateralismo, colocando as pessoas no centro da resposta ao VIH, respeitando os direitos humanos, advogando a resolução da crise das dívidas para que os países possam ter espaço orçamental para investir na saúde e em serviços essenciais, permitindo que as comunidades e os jovens liderem e moldem políticas e programas eficazes para acabar com a SIDA até 2030.
De que forma a ONUSIDA colabora com o Governo angolano e outras organizações para aprimorar os programas de prevenção, testagem e tratamento do VIH?
O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH e a SIDA (ONUSIDA) representa uma abordagem multilateral eficaz. Sua parceria única dentro da ONU integra a experiência e os recursos de 11 organizações das Nações Unidas e do Secretariado, permitindo liderar a luta global contra a SIDA. Essa colaboração é fundamental para ajudar os países, incluindo Angola, a implementar estratégias comprovadas e avançar colectivamente, enquanto promove os direitos humanos.
Quais são os principais parceiros da organização?
Em Angola, a Equipa Conjunta do VIH das Nações Unidas, coordenada pela ONUSIDA, inclui a OMS, FNUAP, UNICEF, UNHCR, UNODC e PNUD. A ONUSIDA trabalha em estreita colaboração com o Governo, associações de pessoas que vivem com VIH, redes como a ANASO, Organizações da Sociedade Civil (OSC), o PEPFAR, o Fundo Global, organizações juvenis, comunidades LGBTI, organizações religiosas (OBF) e o sector privado.
Quais têm sido os principais projectos da organização em Angola?
As Nações Unidas têm apoiado Angola na implementação do Plano Estratégico Nacional para o VIH, Hepatites Virais e DSTs 2023-2026. Este plano intensifica o foco na prevenção, incluindo a prevenção da transmissão de mãe para filho e garantir acesso ao tratamento para as pessoas que vivem com o VIH, tendo uma forte ênfase na participação e liderança comunitária, especialmente entre os jovens, além de promover a igualdade de género.
Como a ONUSIDA avalia os programas para responder ao VIH e SIDA em Angola?
O país está a dar passos importantes na resposta ao VIH. Mesmo com os progressos realizados, é necessário acelerar o ritmo de implementação de programas de prevenção e tratamento. Entre 2010 e 2023, Angola reduziu em 45% a incidência do VIH, um marco importante, mas ainda distante da meta global de reduzir novas infecções em 82,5% até 2025. É igualmente louvável que Angola ofereça tratamento gratuito para o VIH. Entre os 320.000 angolanos estimados vivendo com o VIH em 2023, 50% têm acesso a tratamento, em comparação com a meta de 95%.
Falta pouco para 2030 e para tal, é necessário um maior investimento no VIH, juntamente com os cuidados de saúde primários, incluindo a saúde sexual e reprodutiva. Sem investimento suficiente para implementar programas, incluindo financiamento para programas liderados pela comunidade, não seremos capazes de acelerar e alcançar as metas estabelecidas pelo país.
A ONUSIDA fez uma chamada antes e durante a Cimeira do Futuro e ao AGNU para que resolvam a crise da dívida que vários países enfrentam. Qual é a ligação com o VIH?
Um défice de financiamento está a comprometer a resposta ao VIH em países de baixo e médio rendimento. Em muitos países com as pandemias de VIH mais severas, o serviço da dívida consome uma parte significativa das receitas públicas, limitando a capacidade de investimento em despesas essenciais. Em Angola, Quénia, Malawi, Rwanda, Uganda e Zâmbia, as obrigações do serviço da dívida superam 50% das receitas públicas.
Assim, durante a Cimeira do Futuro, a ONUSIDA fez um apelo para que se resolva a crise da dívida, permitindo que os países ampliem o espaço orçamentário necessário para investir em saúde e em outros serviços essenciais, como educação, nutrição e protecção social.
Quantas novas infecções de VIH tem Angola e quem são os mais afectados?
Estima-se que houve 16.000 novas infecções por VIH em 2023. As novas infecções são particularmente significativas entre crianças (20%) e jovens (30%). No grupo dos jovens, 77% das novas infecções ocorrem entre mulheres. Além disso, observamos que populações-chave, como trabalhadores do sexo, homens gays e pessoas transgénero são especialmente vulneráveis.
Estamos aguardando os novos dados do Inquérito de múltiplos indicadores em saúde 2024, que serão fundamentais para avaliar a situação. Com os dados do inquérito actualizados, poderemos informar melhor a resposta nacional e descentralizar com base em evidências, o que melhorará a eficiência na execução dos programas, garantindo que ninguém fique para trás.
Que apreciação a ONUSIDA faz do programa "Nascer livre para brilhar”, uma iniciativa da Primeira-Dama da República da Angola?
A iniciativa da Primeira-Dama "Nascer livre para brilhar” mostra que é possível acelerar o acesso à prevenção e ao tratamento em Angola. Esta campanha contribuiu significativamente para o aumento do diagnóstico entre as mulheres grávidas nas Consultas Pré-Natal de 40% em 2018 para 98% em 2023, e para o aumento do tratamento de 34% a 89% entre 2018-2023.
É por isso que a ONUSIDA aplaude a nova iniciativa da Primeira-Dama "Uma geração sem SIDA até 2030”, porque ainda vemos que as crianças e as mulheres estão entre as mais vulneráveis ao VIH junto com a gravidez na adolecência, violência doméstica e casamentos infantis. Esta iniciativa merece o apoio de todos os sectores para criar um impacto importante para as crianças e jovens em Angola até 2030.
Por que a Cimeira e a AGNU são importantes e qual é a visão da ONUSIDA para o futuro?
À medida que o mundo enfrenta crises cruzadas – de conflitos geopolíticos a desafios climáticos e desigualdades na saúde – o trabalho da ONUSIDA na AGNU permanece como um farol de esperança e um modelo do que pode ser alcançado através de um multilateralismo eficaz.
As realizações da resposta ao VIH, como a prestação de tratamento que salva vidas a 30 milhões de pessoas em todo o mundo, demonstram o poder de trabalhar em conjunto, respeitar os direitos humanos e emponderar as comunidades.
O progresso da resposta ao VIH está em um ponto crítico. A ONUSIDA utilizará a sua plataforma na AGNU para defender compromissos financeiros mais fortes e um apoio político sustentado para colmatar estas lacunas e garantir os ganhos obtidos. Com lideranças ousadas, parcerias inovadoras e apoio inabalável podemos manter a resposta global ao VIH no caminho certo e avançar em direcção a um futuro mais equitativo e saudável para todos.
Perfil:
Natural da Noruega, Hege Wagan é a representante da ONUSIDA em Angola desde Setembro de 2022.
Recentemente, trabalhou como Consultora Principal no Departamento de Ciência, Sistemas e Serviços para todos no Centro Global do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre VIH/SIDA (ONUSIDA) em Genebra. Antes disso, ocupou cargos de liderança como directora em exercício da Coligação Global para a Prevenção do VIH.
Foi directora em exercício da Divisão de Igualdade de Género e Diversidade do Centro Global da ONUSIDA e Conselheira Sénior para a Igualdade de Género.
Geriu parcerias, incluindo sobre igualdade de género e direitos humanos, da Equipa de Apoio Regional da ONUSIDA na América Latina e Caraíbas. No Zimbabwe, no escritório da ONUSIDA, liderou trabalhos em matérias humanitárias, de parcerias e envolvimento comunitário.