• Novo Hospital Geral do Bengo alivia sofrimento de doentes com insuficiência renal


    Os pacientes com insuficiência renal residentes na província do Bengo deixam de se deslocar a Luanda em busca de tratamento de hemodiálise, como resultado da entrada em funcionamento, desde ontem, do Novo Hospital Geral, que leva, pela primeira vez junto daquela população, este serviço médico.

    Inaugurado pelo Presidente da República, João Lourenço, a nova unidade sanitária da província do Bengo, baptizada com o nome do reverendo Guilherme Pereira Inglês, está equipado para atender casos crónicos de insuficiência renal.

    Ao prestar declarações à imprensa, depois de inaugurar e visitar, de forma demorada, várias áreas do novo Hospital Geral do Bengo, o Presidente da República reiterou o compromisso do Executivo de continuar a apostar no sector da Saúde, de modo a oferecer um serviço cada vez mais humanizado à população.

    "Nós estamos a fazer o nosso melhor, para um país que tem as dificuldades que tem, que saiu da Covid-19”, destacou.

    João Lourenço, que se fez acompanhar nesta visita de trabalho ao Bengo pela Primeira-Dama da República, Ana Dias Lourenço, referiu que a aposta no sector Social, em especial na Saúde, está a permitir ao país dispor de novas unidades hospitalares "muito bem equipadas”, bem como a admissão de profissionais do sector.

    "Estamos a investir bastante neste sector da Saúde, no sector Social de uma forma geral, mas, em particular, da Saúde”, aclarou.

    O Titular do Poder Executivo esclareceu que estes investimentos na Saúde não se destinam à eliminação total das doenças no país, mas dotar o Sistema Nacional de Saúde de capacidade para tratar os doentes com dignidade. "As doenças vão continuar a existir, a não ser que me queira dizer que já não devia existir doenças”, ressaltou o Presidente, lembrando que tal realidade faz parte da natureza humana.

    "Costuma-se dizer que o perfeito é inimigo do bom. Portanto, pretender que o nosso Sistema de Saúde seja, neste momento, perfeito, eu penso que é exigir demais”, realçou, a propósito, o estadista.


    Negligência médica

    Questionado sobre os casos de negligência médica registados em algumas unidades sanitárias de Luanda, tendo alguns culminados com a morte de paciente, o Presidente da República admitiu a ocorrência de tais incidentes, mas assegurou que os profissionais envolvidos nessas práticas não ficaram impunes. "Não houve impunidade. As pessoas que foram responsáveis por este mau tratamento ao cidadão foram responsabilizadas”, salientou João Lourenço.

    Com capacidade para 200 camas, o novo Hospital Geral do Bengo foi construído com o objectivo de ser uma unidade de referência. Faz parte da carteira de projectos do Programa de Investimento Público e destina-se à melhoria da assistência médica e medicamentosa. As obras tiveram início em Setembro de 2021, tendo envolvido cerca de 650 técnicos.

    Situado na localidade de Bucula, município do Dande, a cinco quilómetros de Caxito, o Hospital Guilherme Pereira Inglês foi dimensionado para atender a população da província do Bengo e trabalhar de forma integrada com o Hospital de Caxito.

    A unidade hospitalar, que fez um casamento entre a Ciência e a Tecnologia, para oferecer um atendimento humanizado à população, ocupa uma extensão de 45 mil metros quadrados e uma área construída de mais de 15 mil metros quadrados.

    O hospital é constituído por 20 blocos, distribuídos pelos serviços de administração, internamento, ambulatório, médicos, logística, morgue e residências.

    A administração possui um espaço para arquivo, serviços técnicos, um auditório com capacidade para 108 lugares, sendo seis para utentes com mobilidade reduzida. Dispõe, ainda, de um internamento polivalente para adulto masculino e feminino, internamento pediátrico e obstétrico, cada um deles com capacidade para 32 camas. Entre os vários serviços disponíveis na unidade hospitalar, destaca-se a electroterapia, terapia respiratória, hidroterapia, terapia ocupacional, um ginásio com equipamento inovador de reabilitação, hemo- terapia, banco de sangue e uma central de colheitas.

    A área de consulta externa conta com equipamentos de última geração composta por 17 consultórios, sendo três de Medicina Geral e 14 para diversas especialidades médicas, com realce para Estomatologia, Oftalmologia e Cardiologia. O Bloco Operatório conta com quatro salas cirúrgicas equipadas com tecnologia de ponta, capaz de realizar cirurgias de alta complexidade. A Unidade de Cuidados Intensivos dispõe de dez camas, duas das quais de isolamento.

    A Urgência possui uma área dedicada a internamento pediátrico e adulto, cada uma com 25 camas, uma sala operatória de traumas e outra para pacientes críticos. Guilherme Pereira Inglês conta, ainda, com uma maternidade, bloco operatório, três salas de parto, neonatologia, berçário, assim como outros serviços. A área de Imagiologia está equipada com um aparelho de TAC, duas salas de Raio X convencional, mamografia e outros.

    O laboratório clínico do hospital está apetrechado com aparelho de bioquímica e imunologia acoplados, com capacidade para realizar 900 testes por hora.

    A unidade hospitalar faz parte da estratégia do Executivo, que passa por levar o atendimento médico de qualidade a todas as localidades do país, para o bem-estar da população.

      Pacientes com necessidade de hemodiálise

    João Tchicale é um dos pacientes com insuficiência renal que, para fazer hemodiálise, era obrigado a deslocar-se à capital do país, onde era atendido na Clínica do Exército, pertencente ao Hospital Militar.

    O paciente lembrou, com tristeza, os sacrifícios que enfrentava para fazer o tratamento. "A falta de dinheiro para apanhar o táxi era o principal problema. Gastava muito dinheiro só com o transporte”, recordou.

    Natural do Bengo, João Tchicale mostra-se agora mais alegre. "Todo este sofrimento agora ficou para trás”, afirmou, alegre.

    Na mesma condição, estava o cidadão Morais Pacato. Tal como o primeiro interlocutor, também se confrontava com a falta de valores para se deslocar a Luanda, para fazer a hemodiálise no Centro Benfica. Para contornar o obstáculo, era obrigado a se hospedar em casa de familiares.

    "Era muito constrangedor. Na casa do familiar, não tinha como exigir o que comer. Comia o que aparecia, mesmo sendo alimento proibido pelo médico. Tinha de escolher entre a fome e a proibição médica”, lembrou.

    Quem também viveu a mesma realidade foi Sebastião Zacarias, que fazia o tratamento na Clínica do Prenda, em Luanda, no último turno, que começava às 22h e terminava às 2h00 da manhã, para sair do local às cinco horas. "Foi uma fase muito difícil”, lembrou Sebastião Zacarias, que elogiou o Executivo pela aposta que está a fazer no sector da Saúde. "Só não vê as mudanças que estão a acontecer no sector da Saúde quem é cego”, destacou.

      Quem foi Guilherme Pereira Inglês?

    Guilherme Pereira Inglês, nascido a 28 de Fevereiro de 1906, na aldeia de Samba Lucala, província do Cuanza-Norte, foi  reverendo angolano que se bateu muito para o desenvolvimento da província do Bengo.

    Filho de Mateus Pereira Inglês e de Ana João, iniciou a jornada educacional na Missão do Quéssua, em Malanje, onde concluiu o exame da 4ª Classe, na actual Igreja Metodista Central. A paixão pelo aprendizado e pelo serviço levou-o a tornar-se professor.

    A dedicação à família era igualada apenas à dedicação às causas em que acreditava. O seu trabalho incansável estendeu-se além das paredes da igreja. Dedicou-se ao desenvolvimento de escolas e internatos, oferecendo educação e formação para a juventude.

    Em 1949, Guilherme Inglês convocou e liderou a histórica primeira conferência anual, no Mucondo. Em Agosto de 1957, numa histórica intervenção durante uma das conferências anuais, realizada em Caxito, instigou a necessidade de um despertar, afirmando: "já chegou o dia em que África deve abrir os olhos para encontrar no mundo que é bom e começar a encarar, seriamente, o seu trabalho e o cargo que lhe é incumbido”.

    As suas intervenções chamaram a atenção da PIDE, que começou a vigiar-lhe de perto e a acompanhar cada um dos seus cultos dominicais, até que, no dia 22 de Março de 1961, foi levado para Quibaxe, para nunca mais voltar.

    Luzia Inglês Van-Dúnem, ex-secretária-geral da OMA e filha do reverendo, disse que a família recebeu, com muito agrado, a homenagem feita pelo Executivo ao seu pai. "Foi, para nós, uma grande honra e não temos mais nada a dizer que não seja agradecer a iniciativa do Camarada João Lourenço, pela iniciativa”, frisou.