A Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, manifestou, quinta-feira, em Luanda, a disponibilidade para apoiar o Projecto Ferti Mulher, destinado a ajudar mulheres no quadro da saúde reprodutiva, bem como do ponto de vista financeiro, psicológico, emocional, auto-estima, imagem e outros, pilares fundamentais para que goze de plena saúde e alcance o pleno potencial.
Líderes de associações de mulheres foram recebidas ontem pela Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, e apresentaram os projectos em curso © Fotografia por: João Gomes| Edições Novembro
A informação foi avançada pela médica ginecologista obstetra Constantina Stella, representante do projecto, à saída de uma audiência com a Vice-Presidente da República, Esperança da Costa.
Constantina Stella explicou o objectivo do projecto, que passa pela prevenção das causas ou situações que levam as mulheres à infertilidade. A médica informou que, segundo um estudo desenvolvido na Maternidade Lucrécia Paim, de Janeiro de 2021 a Dezembro de 2022, 64 mulheres, com menos de 20 anos, ficaram sem o útero por complicações provocadas por abortos inseguros.
A ginecologista obstetra, que trabalha na Maternidade Lucrécia Paim, falou ainda do caso de muitas mulheres com gravidez ectópica por infecções vaginais recorrentes, mal ou não tratadas, em que diariamente são feitas cirurgias para o tratamento. "Todas essas condições são preveníveis”, apelou Constantina Stella.
"A primeira edição do Projecto Ferti Mulher acontece agora, a 29 de Julho. A Vice-Presidente da República manifestou apoio à iniciativa e esta é uma nota muito positiva, por demonstrar que temos uma mulher que apoia outras mulheres, o que é precisamente o objectivo da iniciativa: mostrar que as mulheres podem alcançar o máximo potencial se estiverem unidas entre elas. E vamos conseguir”, referiu a especialista.
Ainda sobre o projecto, criado por mulheres para levar informação e ajudar outras mulheres com aquilo que tem a ver com a saúde, de dentro para fora, com uma abordagem holística, Constantina Stella disse que tem realizado palestras para 100 a 200 mulheres, quer em universidades, centros de acolhimento e noutras instituições. O evento de amanhã prevê aproximadamente 2.500 mulheres.
Neste momento, acrescentou a médica, o maior desafio são os apoios, quer sejam institucionais ou privados, porque se trata de um projecto que não é pouco dispendioso, olhando para a conjuntura actual. "Temos tentado enfrentá-lo todos os dias, não paramos de bater portas e vamos continuar, porque a causa é justa e não pode morrer”, concluiu.
Fazem parte do projecto figuras como Carla da Costa, Sara Félix, Neusa Pinto, Érica Chissapa e outras. Segundo Constantina Stella, a ideia é juntar mulheres líderes, com alguma admiração, que são referência ou espelho para muitas outras, de modo a chamar atenção para a causa. O projecto tem pouco menos de dois anos, começou em Luanda e a intenção é levar a outras províncias.
Produção de fármacos em Angola
Em audiências separadas, a Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, recebeu a premiada cientista angolana Teresa Matoso Victor, com quem abordou questões ligadas à necessidade da criação de uma farmacêutica no país, para a produção de fármacos e de equipas multidisciplinares, de modo a resolver problemas existentes no país, como os da investigação científica.
Em declarações à imprensa, Teresa Matoso Victor ressaltou que esta é a era que Angola pode abrir uma farmacêutica, pois tem matéria-prima e quadros capazes: "Como sempre gostei de enfatizar, devemos criar equipas multissectoriais para resolvermos os problemas com que nos debatemos hoje no domínio da Investigação Científica. Foi, precisamente, essa a ideia que a Vice-Presidente mais enfatizou hoje, porque só com equipas multidisciplinares é que poderemos resolver alguns dos problemas”.
Teresa Matoso referiu ainda que a Vice-Presidente da República falou de um projecto de recolha de activos (plantas) para poder produzir os fármacos em Angola, além de manifestar o desejo de as "incluir neste projecto”.
Sobre o encontro, a cientista disse que foi bastante produtivo, pois Esperança da Costa mostrou boa vontade, como uma "grande investigadora e alguém com quem no futuro se pode partilhar vários trabalhos”.
A angolana, que recentemente venceu o Prémio Internacional de Pesquisadora Inovadora do ano em Engenharia Química e Biotecnologia, além de ter sido, no ano passado, galardoada com o Prémio Internacional de Melhor Pesquisadora na Área de Engenharia Química, manifestou o desejo de utilizar essa experiência para divulgar ao mundo, na qualidade de membro vitalício do Conselho Mundial de Pesquisa, que os angolanos estão preparados para fazer investigação científica.
Teresa Matoso defendeu que não se desenvolve um país sem passar pela investigação científica e que é necessário que os angolanos e os dirigentes entendam e valorizem o que é endógeno, porque existe a tendência de que "não se pode ou não se tem investigadores ou cientistas”.
"O Executivo está a acompanhar todo o trabalho desenvolvido no domínio da Investigação Científica”, disse ao sair do encontro com a Vice-Presidente, convicta de que existe vontade política de desenvolver Angola tecnologicamente.
Mulheres nas Geociências
No período da tarde, a Vice-Presidente da República concedeu outra audiência à secretária de Estado para a Ciência, Tecnologia e Inovação, Alice de Fátima Pinto de Ceita e Almeida, acompanhada pelas presidentes das associações africana e angolana das Mulheres Geocientistas, e de uma representante da Associação das Mulheres Mineiras da SADC, do Botswana.
Segundo Alice de Ceita e Almeida, o encontro foi uma oportunidade para debater os objectivos da 10ª Conferência Internacional da Associação Africana de Mulheres em Geociências, que decorre em Luanda desde 26 deste mês.
A governante angolana disse que a Vice-Presidente garantiu acompanhar as actividades e prestar apoio, principalmente à Associação Angolana de Mulheres Geocientistas.
Para Alice de Ceita e Almeida, um dos grandes objectivos do fórum em Luanda é a partilha de experiências com as geocientistas de África, sobretudo, e analisar como se pode incentivar as mulheres, principalmente jovens.
Sobre a questão do tempo que as mulheres passam nas minas, nas plataformas, olhando para os papéis de mães e esposas, a secretária de Estado referiu ser um assunto que preocupa o Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, que superintende a actividade no sector Mineiro e do Petróleo e Gás, de modo a ver como se pode melhorar e reduzir o impacto com a estadia delas nesses locais de trabalho.
Para a presidente da Associação Africana de Mulheres em Geociências, Errami Ezzoura, o encontro com a Vice-Presidente centrou-se, igualmente, na cooperação e no empoderamento da mulher na área das Geociências.
Segundo Errami Ezzoura, a ideia é continuar com uma cooperação profícua, principalmente com a Associação Angolana de Mulheres Geocientistas. Para a presidente da Associação Angolana de Mulheres Geocientistas, o número de mulheres no sector da Mineração ainda é reduzido, mas no que toca à Associação estão representadas 255.
"Isso é uma questão que tem vindo a ser debatida em mesas-redondas no âmbito da mineração, um sector predominantemente masculino e que, de facto, as mulheres anteriormente se sentiam sem apoio e discriminadas”, mas acrescentou que hoje a realidade é outra e que a cada dia é crescente o número de jovens mulheres que aderem às carreiras na área das Geociências.
A representante da Associação das Mulheres Mineiras da SADC, Namesto Ntsosa-Carr, fez saber que foi um encontro de juntar sinergias, com a intenção da criação, enquanto associação, de uma federação para agregar as associações de mulheres na região. "Queremos ter uma única voz e que as pessoas escutem o que se fala em relação ao empoderamento da mulher nesses sectores”, frisou.